terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bons Costumes

A gente está se acostumando a fazer amor devagarzinho,
No meu chão, com as suas cobertas e seus travesseiros.
A gente já se acostumou a dormir às 5 da manhã ouvindo Djavan e
Usar seu Iphone como lanterna pra eu poder escrever no escuro.
A gente acostuma os olhos a não estranhar a luz do poste acesa.
Eu me acostumei fácil com seu cheiro e você com as minhas cristas ilíacas.
É melhor não me acostumar.
E fico pensando em poesia enquanto você me beija e quando estou contigo tenho a péssima
Sensação de não precisar ficar com mais ninguém, mas mesmo assim fico,
Para não perder o costume.
E peço a deus que você fique também, pra gente ter o bom costume

De ter vontade de voltar.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Reencontro - Ana Paula Lisboa

Eu gosto da tua sensação, da sensação de poder te ensinar as coisas, sabe? 
Eu gosto da sensação do teu cheiro que eu até já tinha esquecido.
Eu ainda tenho a minha juventude e você tem a sua e temos nosso final trágico 
como o de Romeu e Julieta em que no fim todos morrem.
E quando você foi embora choveu, como naqueles filmes 
em que a mocinha diz que nada de pior pode acontecer 
e aí chove, sabe?

Quando você voltou choveu também.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Eu finjo ter paciência - Ana Paula Lisboa


Excluí todas as suas fotos da minha timeline, mas não foi o suficiente.
Faltou te excluir da comemoração dos meus últimos 6 aniversários e
De todos os aniversários da minha irmã, desde que ela nasceu.
Faltou te excluir da memória dos amigos em comum e das perguntas
Que todos comumente fazem.
Falta te excluir dos banhos gelados e dos banhos quentes.
Faltou eu te excluir dos meus sorrisos, que nunca mais foram os mesmos e
Das minhas lagrimas, que também nunca mais foram as mesmas.
Faltou te excluir das minhas roupas que continuam com seu cheiro
De perfume importado comprado em freeshop.
Faltou te excluir das minhas neuroses, da minha-sua mania de dar satisfação.
Faltou te excluir das minhas lembranças de Buenos Aires
E de todas as minhas lembranças de felicidade quase permanentes.
Falta ainda te excluir dos dias de chuva, dos dias de sol, dos nublados, das chuvas de granizo.
Das noites de primavera, verão, outono e inverno.
Mais ainda das noites de inverno!
Ah, falta tanto pra excluir.
Mas eu finjo ter paciência... 

Já faz tempo - Ana Paula Lisboa


Ouço sempre as mesmas poesias.
Leio sempre as mesmas poesias e, principalmente,
Escrevo sempre as mesmas poesias.
Faço assim:
Imagino os seus ouvidos com a minha voz não-rouca,
Os meus cabelos crespos envoltos na sua mão grande,
Os meus pés gelados nas suas pernas quentes.
Nada é natural, mas indiscriminadamente,
Escrevo sempre as mesmas poesias.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Rendendo pra ele - Ana Paula Lisboa

Para te render homenagens eu fiquei com os olhos vermelhos,
permaneci tensa.
Em sua homenagem permiti até me entupir o nariz,
minha testa franzir, meus pés racharem como os dos que fogem da seca.
Em sua homenagem tomei banho frio tarde da noite e me forcei a ouvir pagode,
daqueles melosos que doem o peito.
Em sua homenagem menti minha idade, menti pra mais.
Em sua homenagem eu até amei, amei tanto que fui Dora,
Dora de Chico, amei toda a Quadrilha e escrevi.
Importante é dizer:
Não espero com isso que você também me renda homenagens.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Flowing - Ana Paula Lisboa


Tomara que nossa relação seja assim, leve, levemente pra sempre.
Tomara que um dia, de tão leve, a gente possa até voar.
Tomara que você seja as minhas asas e que eu seja as suas.
Tomara que eu seja tua!
E sendo tua tomara que eu possa ser bailarina e você seja jogador de futebol.
Tomara que eu seja o Bebeto.
E tomara mais ainda que a beleza nunca nos abandone.
Tomara!

Quase - Ana Paula Lisboa


A noite não foi assim:
Perdi Jorge, perdi os pretinhos, me perdi dos amigos, quase perco a vida em Santa.
Só não perdi o desejo de vê-lo.
E na verdade vi:
Cutucando o ombro de outras, bebendo tanto quanto eu e com o Iphone desligado.
Ah, Iphone-me, Novembro-me...
A gente não namora, mas quase.

domingo, 21 de outubro de 2012

BALDE


Sentaram ao redor da mesa, já as gargalhadas. Riam como se a rua fosse só deles. 1:13 da madrugada, já era quarta, mas um do grupo convenceu a todos de que o futuro não existia e que o tempo não precisava ser medido.
O primeiro balde, vermelho, cheio de gelo em cubos envolvendo 7 cervejas geladíssimas que seriam bebidas por puro divertimento. Ninguém parecia ter sede. As gargalhadas só aumentaram e depois de uma declaração de amor, em que até a lua, encoberta por nuvens, resolveu aparecer, eles se sentiram também donos do céu.

não-relação

uma porta
uma parede
uma menina
um menino
um olhar
um copo de vidro
um menino 
uma menina
uma porta de madeira
uma mão
um corpo
um corpo
dois corpos
tremulos

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Prece - Ana Paula Lisboa



Hoje ascendi uma vela e pedi.
Pedi não pela alma dele, pedi pelo corpo.
Pedi para que seu corpo sobreviva.
Pedi para que as 14 ligações da madrugada
não fossem noticia de morte, matada
ou morrida.
Pedi para que um homem preto de 50 anos, que nunca teve problemas com a polícia,
não tivesse que visitar o filho preso, no dia do aniversário.
Pedi para parar de soluçar.
Pedi para que o tempo voltasse, o tempo em que eu cantava, o tempo da roupa azul,
do primeiro filho homem, da chupeta perdida,
do pano verde.
Um homem no ônibus me viu chorando, ele tinha o cabelo verde.
Coincidência.
Pedi muito para que a policia não entrasse na casa de telhas, não quebrasse tudo,
não esculachasse minha mãe,
não colocasse pavor na minha irmã,
não achasse drogas e não nos olhasse nos olhos como se a gente fosse mais um bando de favelados
e bandidos.
Pedi tanto pra ter estado lá nessa hora!
Pedi para parar de chorar e me culpar por não cumprir as obrigações de quem nasce primeiro.
Pedi encarecidamente para o que único Severino que tivesse entrado na família fosse
o que eu namorei há uns anos e para que nenhum Padre destrua nossa vida.
Mesmo sabendo do erro, em momentos pedi para que ele morresse.
Porque aí talvez houvesse paz, mas eu sei que não, a paz não se faz tão fácil.
E sei ainda que talvez ele morra sim, mesmo sem eu pedir.
Por fim não pedi por ele, pedi por mim, pela minha casa,
por todos os jovens pretos, buchas do tráfico,
favelados de 17 anos que fazem seu pai, irmãs, mãe, tia, prima, madrinha e cunhado
pedirem a Deus por eles.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Obrigada - Ana Paula Lisboa


Não sou obrigada a nada, e me obrigo a não ser obrigada!
Não sou obrigada a tomar banho, pentear o cabelo, escovar os dentes.
Não sou obrigada a sair e nem a ficar.
Não sou obrigada a votar no Freixo, não sou obrigada a me especializar em alguma especialidade.
Me obrigo a escrever... mas não sou obrigada a ter certezas nem duvidas e nem a fazer da minha escrita uma coisa que faça sentido pra você.
Não sou obrigada a falar, a calar, acordar cedo ou dormir tarde. Não sou obrigada a beber, a fumar, a ler, a te amar...
Não, não me obrigue a falar de amor.
Pronto, falei. E já que falei então não sou obrigada a parar. Não me obrigue a te querer, por favor, não me obrigue a ser engraçada quando estou contigo, porque minhas piadas são péssimas. Nem me obrigue a rir das suas piadas, das confusões que você faz com a ordem dos meses do ano.
Não me obrigue a desconstruir meu discurso sobre felicidade e liberdade que a vida me obrigou a construir.
Não me obrigue a nada, porque não posso ser obrigada.

Sorriso de boba no canto da Boca - Ana Paula Lisboa


Maldito Babaloo, que não faz bem pros dentes, não faz bem pra nenhuma parte do meu corpo. Eu tentando sair da resistência para a afirmação pois o importante não é o significante mas o significado da sua língua áspera junto da minha. Da batata frita, da asa da galinha, da brama gelada. O importante sou eu te explicar como escrevo as minhas poesias, sou eu dizer da dialética do Iluminismo, de Fromm, de para, de onde caiu a tarraxa do brinco. Eu quero é ouvir Legião Urbana e ver o jogo do Botafogo toda a quarta feira, só camisa 10. Viva eu! Viva tu! Viva Barthes! Viva a barriga descoberta, viva o peito desnudo. Viva meu sorriso de boba no canto da boca...

Sofá de Couro - Ana Paula Lisboa

eu sou preguiçosa, molenga, lerda, lesada. gosto mesmo é de ficar jogada no me sofá de couro. me apaixonei por sofás de couro quando fui a casa dele: era chegar, dar boa tarde, sentar, me derreter, ouvir historias sobre as crises no relacionamento com a namorada, sobre os amigos em comum, filosofar, exclamar da falta de dinheiro, reclamar da chatice e da alegria de ser jovem em 2010. eu sempre acabava cochilando uns 10 minutos abraçada ao sofá. as vezes a gente se beijava, as vezes a gente se lembrava que era melhor não.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Dançando Salsa - Ana Paula Lisboa

Lembra de quando dançamos?

Hoje tive vontade de dançar e não dancei.

Dancei ciranda no carro, botei meu bloco na rua mas não dancei salsa.

Cebolinhas na cabeça, ela cheia de memorias tatuadas no corpo,

E onde mais haveria de ser?

Virei a cabeça pro lado e nem vi a menina de olhos verdes brilhantes, nem quis ver.

Me fiz de amorzinho, dancei juntinho, mas não dancei salsa.

Orégano no bolso esquerdo, de traz da calça,

Pimenta nos olhos, ardidos, cheios d´água, mas não dancei salsa.

No fim foi tudo bobeira Nóz Moscamos no tempo que tínhamos.

domingo, 3 de abril de 2011

Sinto Ciúmes de Pessoas que não Gosto - Ana Paula Lisboa

Estou ouvindo conversas por trás da porta.
Esticando os ouvidos pra ouvir as conversas no telefone.
Estou tendo calafrios na espinha por causa de pensamentos mal pensados
E pensando, seriamente, em jogar tudo pro alto.

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